Relatórios de Vindimas

Relatório de Vindimas 2023 | As vindimas de Alvarinho mais precoces de sempre no Soalheiro

Relatorio-de-Vindimas-2023

Este ano começámos a vindimar Alvarinho no dia 23 de Agosto – nunca nestes mais de 40 anos tínhamos começado a vindimar tão cedo a casta em que nos focamos. Cada ano tem características específicas e tivemos de nos adaptar: se o ano adianta a vinha, nós adiantamos as vindimas.

Num ano de nascença generosa, mesmo com o cuidado familiar das vinhas que caracteriza o nosso território, existiu uma monda natural devido aos picos de calor e humidade que se fizeram sentir em Junho, o que levou a que a quantidade de uva estivesse alinhada com anos anteriores e que a qualidade nos tenha trazido boas surpresas. O objetivo é o de sempre: fazer vinhos que refletem o território, com elegância e precisão. 

Mudar para manter a tradição. Há muitos anos que no Soalheiro fazemos várias vindimas, ou seja, acompanhamos a maturação das uvas por todo o território, tendo as vinhas de todos os viticultores localizadas e caracterizadas para marcamos a vindima da forma mais criteriosa possível para cada parcela, para cada uma das categorias que trabalhamos (Alvarinho do vale, de altitude, de vinhas velhas, etc.). Acreditamos que só com a mudança é que conseguimos manter a tradição – o fazermos a vindima mais precoce de sempre este ano teve como objetivo manter o perfil clássico do Soalheiro.

Mudar para descobrir novos caminhos. Cada vez mais, o foco nas vinhas de altitude, nas vinhas velhas, na diversidade é o segredo da consistência na qualidade dos perfis que queremos criar. O facto de termos várias vindimas distintas, faz com que tenhamos diversidade para afinar o perfil do Clássico, como por exemplo ao utilizar uma pequena percentagem proveniente de vinhas de altitude no lote para preservar a frescura, mas também nos leva a descobrir e a aprimorar novos perfis, como foram o caso do Primeiras Vinhas, do Granit e de outros que continuámos a procurar ano após ano. 

Um território único. O perfil diferenciador de Monção e Melgaço mantém-se bem presente – os dias aquecem e as noites arrefecem. Os dias quentes favorecem a intensidade gustativa, as noites frias mantêm a frescura aromática e a singular acidez.

A mudança ocorre também nas mentalidades e se no passado era quase proibido falar de acidez, hoje em dia ela é cada vez mais procurada e precisa, é o foco de cada vindima, a par de um teor alcoólico que queremos que seja moderado.

O conhecimento do lugar. Foi um ano generoso para o fruto, mas com momentos difíceis, exigiu grande resiliência dos viticultores. Cada uma das parcelas que dá origem aos nossos vinhos é tratada como um jardim pelas mais de 180 famílias de viticultores que fazem parte do nosso Clube. É desta diversidade e conhecimento próximo que tentamos partir para uma vindima o mais precisa possível. O cuidado familiar ajuda a defender as plantas em anos difíceis como este, mas para isso é preciso conhecimento do lugar e atenção constante, como se diz por cá, “falar com elas todos os dias”. Mesmo assim, existiu uma monda natural, cachos que se perderam, o que além da redução da quantidade – compensada pela generosa nascença teve um efeito positivo: aumentou a concentração de alguns mostos, levando-nos a estar otimistas em relação à qualidade dos vinhos.

O Ciclo Vegetativo

Um ano generoso para o fruto, mas delicado para o viticultor 

Este ano tivemos um Inverno onde o nível de precipitação foi abundante, o que fez com que existissem reservas de água para um bom desenvolvimento do ciclo vegetativo. O abrolhamento ocorreu na segunda quinzena de março, tal como no ano anterior. Depois de surgirem as primeiras inflorescências, já em Abril, quando se passeava nas vinhas notava-se um ano de grande generosidade para o fruto, dada a abundância de cachos (inflorescências) que saltava à vista. A plena floração ocorreu a meados de Maio – cerca de 10 dias antes que no ano passado. Nesta fase, já se notava um desenvolvimento acelerado, um adiantamento do ciclo vegetativo. A Primavera foi solarenga, o que fez com que chegássemos a esta altura com ótimos prenúncios.

Diz a sabedoria popular cá do território, que a fase mais complicada para a vinha é pela altura dos Santos Populares, o mês de Junho. Este ano, confirmou o ditado. Houve semanas de um clima de grande incerteza, de grande instabilidade, onde se alternavam períodos de calor e sol forte, com períodos de muita chuva, manhãs de nevoeiro cerrado. Foi um período delicado para os viticultores, que com muito trabalho, aliado à generosa nascença, conseguiram levar muitos dos cachos que se anunciavam até às vindimas.

Vindimas que se anteciparam desde cedo 

A maturação iniciou-se em meados de Julho e fizemos os primeiros controles a 25 de Julho. Como temos as parcelas de todos os viticultores localizadas e caracterizadas (área, idade da vinha, altitude, sistema de condução, tipo de solo…), partimos de uma amostra representativa e exaustiva com o objetivo de marcar a vindima da forma mais criteriosa possível para cada parcela, incluindo-a num dos vários grupos que definimos, numa das várias vindimas que fazemos. Logo nos primeiros controles de maturação, confirmava-se o avanço em relação ao ano anterior que já vinha do início do ciclo e que se refletiu no início das Vindimas a 23 de Agosto, as vindimas de Alvarinho mais precoces de sempre no Soalheiro.

Qualidades e quantidades

Álcool equilibrado e acidez precisa 

Pelo início precoce das vindimas, os teores alcoólicos foram, em geral, inferiores a 2022, o que nos deixou bastante satisfeitos, porque alcançámos o nosso objetivo de ter esse equilíbrio nos vinhos. Os níveis de acidez são semelhantes aos do ano anterior, talvez este seja o facto mais distintivo desta colheita: conseguimo-lo devido à precisão das datas das vindimas, e à especial atenção que damos às vinhas de maior altitude, onde a acidez está mais presente.

A vindima dedicada às uvas de altitude, as prensagens dedicadas ao cada vez maior número de vinhas instaladas a cotas elevadas no nosso território, faz com que o nosso Clássico, umbilicalmente ligado às vinhas do vale, vá este ano ter no lote uma pequena percentagem oriunda de vinhas de altitude, para manter a frescura e precisão que o caracterizam. 

Da nascença abundante à monda natural 

Em termos de quantidade, foi um ano de incerteza, pois houve alguns problemas de dificuldade de controle do míldio em Junho, mas que, face à nascença abundante, acabaram por não ter um efeito tão significativo como se podia esperar. Mais uma vez, apesar de ser uma realidade muito mais trabalhosa para os viticultores e para quem marca vindimas a mais de 180 famílias, esta é a vantagem do conhecimento do lugar, do cuidado familiar, das muitas parcelas diferentes e pequenas, da diversidade, do cuidado criterioso e do acompanhamento constante ao nosso Clube de Viticultores.

A qualidade não foi afetada e nalguns casos tivemos até uma agradável surpresa, porque a monda natural, não desejada, provocada pela natureza, contribuiu para um aumento de concentração nos cachos que ficara que alguns mostos nos tenham surpreendido pela complexidade.

As várias vindimas

Começámos no dia 23 de Agosto por algumas parcelas de Alvarinho biológico, provenientes de vinhas do vale, que por terem uma boa exposição solar já estavam no ponto. No dia 24 de Agosto vindimámos a nossa parcela de Pé Franco. Os primeiros grandes dias de vindima de Alvarinho no vale foram os do fim de semana de 26 e 27 de Agosto, sendo que todos os dias diferenciámos prensagens e mostos consoante particularidades das parcelas e fim a que se destinavam. Como já é costume, focámo-nos em três grandes categorias no Alvarinho: vale, altitude e vinhas velhas. Logo no dia 27 de Agosto vindimámos, pelo segundo ano, uma parcela próxima ao rio que nos chamou a atenção pelo solo com características muito particulares, que dará origem a um novo perfil de Alvarinho que vamos lançar em breve. Este ano consolidámos a estratégia de vindima para a nossa base de espumante: usámos apenas uma prensagem de pressão baixa, sobretudo destes primeiros dias de vindimas onde as uvas têm um teor alcoólico mais baixo e acidez mais alta, em busca da precisão e elegância que procuramos nos nossos espumantes. A vindima no vale foi-se estendendo pelas semanas seguintes, consoante localização e exposição das vinhas, consoante o sistema de condução, de acordo com aquilo que os controles de maturação nos iam dizendo. O grande dia da vindima de vinhas velhas foi o 4 de Setembro, dia sempre marcante em que vindimámos o Soalheiro, vinha plantada em 1974 que deu o nome à nossa marca – hoje em dia, já existem várias parcelas no nosso Clube de Viticultores com mais de 30 anos, o que muito nos satisfaz e motiva. No que toca à vindima do Alvarinho de altitude, os grandes dias foram os do fim de semana de 9 e 10 de Setembro, sendo de notar que hoje em dia já há viticultores com parcelas plantadas a 400 ou 500 metros, um cada vez maior número de vinhas de altitude. 

No que toca a outras castas, vindimámos o Pinot Noir  para o Mineral Rosé a 25 de Agosto, o Loureiro para o ALLO  nos dias 26, 27 e 28 de Agosto e o Sauvignon Blanc também a 28 de Agosto – todas estas castas são oriundas de uma zona mais atlântica dos Vinhos Verdes, vindimas onde pretendemos conservar a maior frescura possível. O Loureiro de vinhas velhas para o Germinar, onde procurámos uma maior complexidade, só vindimámos a 7 de Setembro. O Alvarelhão foi vindimado e pisado no lagar no dia 8 de Setembro. Para terminar as vindimas, no dia 14 de Setembro, vindimámos algumas parcelas onde existe uma mistura de castas tintas autóctones, algumas centenárias, que continuamos a estudar. 

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