2021
Este ano a incerteza na vinha foi uma constante, permitindo no final reforçar uma certeza maior: mesmo num ano pleno de dificuldades, a nossa equipa de viticultura e as mais de 150 famílias de viticultores que trabalham com o Soalheiro, voltaram, mais uma vez, a conseguir uvas de qualidade singular, resultado de um saber de gerações que, em conjunto com as condições naturais inimitáveis, dão origem a este território único e a vinhos especiais, feitos por tantas mãos.
A tomada de decisões é fundamental na vinha, e para se tomarem boas decisões é necessário acumular conhecimento e enfrentar novos problemas, inovando, daí termos muito orgulho na relação próxima e de partilha que existe durante todo o ano entre a nossa equipa de viticultura e os viticultores, mas nada substitui um acompanhamento diário e um conhecimento pormenorizado de cada parcela por parte de quem delas cuida. Como se diz por cá: “É preciso falar com as videiras todos os dias”. Este carinho que se deixa na vinha, em cada parcela, em cada videira, fez toda a diferença neste ano tão desafiante.
Um ano difícil, da dormência à maturação
Depois de um Dezembro bastante frio, com nevões na parte mais alta do território, nos primeiros meses do ano as temperaturas foram mais amenas que o habitual, levando a que os primeiros passos do ciclo vegetativo fossem precoces. O abrolhamento ocorreu na primeira quinzena de Março e já na última semana de Março surgiram as primeiras inflorescências. Por esta altura, o ciclo da videira estava cerca de uma ou duas semanas mais adiantado do que é costume em Monção e Melgaço.
Abril e Maio foram mais frios do que é habitual, trazendo algum desavinho e dificuldades na floração, que ocorreu em meados de Maio. Em Junho houve bastante precipitação que, conjugada com temperaturas amenas e alguns dias de sol com horas de calor muito forte, colocou grande pressão de doenças na vinha. Manhãs de orvalho, temperatura instável e chuvadas intensas fizeram com que a atenção dos viticultores tivesse de ser redobrada. Estas condições climatéricas provocaram um crescimento vegetativo intenso, o que fez com que o trabalho manual de pentear a vinha para arejamento dos cachos tivesse de ser quase diário.
Do pintor às várias vindimas
Em Julho nunca existiu calor consistente e o clima continuou errático, por isso o adiantamento do ciclo da vinha foi-se esbatendo. No fim de Julho, altura em que é costume iniciar a fase de maturação, as temperaturas foram mais baixas que o habitual e choveu ocasionalmente, o que empurrou o pintor para o início de Agosto.
A partir da primeira semana de Agosto o calor foi intenso, voltando a acelerar o ciclo da vinha. Estas duas semanas de muito calor apontavam para uma vindima no fim do mês, mas a última semana de Agosto voltou a trazer temperaturas mais baixas e chuvas, o que fez com que o ciclo da vinha voltasse a atrasar-se e a gerar incerteza sobre qual seria a altura ótima para vindimar. Devido à inconsistência do clima durante a maturação, este ano, em colaboração com os viticultores, realizámos centenas de controles de maturação: cada família foi recolhendo amostras representativas das parcelas que foram selecionadas para serem analisadas, semana após semana.
Era importante deixar que as uvas chegassem ao ponto ótimo e também tentar fugir às chuvas que se anunciavam durante o mês de Setembro. Começámos por vindimar o Pinot Noir na última semana de Agosto, depois o Sauvignon Blanc já no fim do mês e nos primeiros dias de Setembro vindimámos o Loureiro. Todas estas uvas são provenientes de uma zona atlântica dos Vinhos Verdes e é fundamental para o nosso perfil de vinhos não atrasar muito a vindima para que as uvas conservem a frescura que as caracteriza.
Continuávamos a acompanhar de perto a maturação do Alvarinho em Monção e Melgaço e com base na informação que fomos recolhendo e no conhecimento da casta e do território acumulado ao longo dos anos, decidimos iniciar a vindima no dia 6 de Setembro. Na verdade, iniciámos várias vindimas. Começámos pelas parcelas do vale, onde nascem as uvas para os vinhos com maior expressão aromática como o Soalheiro Clássico, vindimámos as parcelas mais antigas e outras escolhidas especialmente para algumas inovações e lotes específicos, e acabámos nas parcelas de maior altitude, para o Soalheiro Granit, já na última semana de Setembro.
O início da vinificação
De uma forma geral, verificamos que os mostos, este ano, têm um teor alcoólico moderado e uma grande frescura, bem ao nosso jeito. As primeiras provas confirmaram ainda que a ligação entre o trabalho na vinha e o trabalho na adega é cada vez mais directa, ou seja, os perfis que identificamos na vinha e que isolamos em cada uma das micro-vindimas que fazemos, acabam por originar mostos que se diferenciam notoriamente entre si. A diversidade do território e das vinhas reflecte-se na diversidade de mostos que provamos na adega. O principal trabalho no processo de vinificação é respeitar o trabalho dos viticultores e da Natureza, respeitar a diversidade, exaltando-a
Outra das certezas que vamos tendo, ano após ano, é que as alterações climáticas trazem uma grande inconsistência – todos os anos o ciclo tem variações, cada ano a sua vindima, cada colheita é uma colheita, sendo que, este ano, com o evoluir da fermentação, a colheita se revela mais fresca, com álcool moderado, criando as condições ideais para trabalhar uma característica que valorizamos cada vez mais: a precisão.
Há já muito tempo que nos apercebemos que, para sermos consistentes e inovadores, e apostando essencialmente em duas castas brancas - Loureiro e Alvarinho - é fundamental trabalhar com a diversidade das parcelas de vinha e dos estilos de uvas. Sem a heterogeneidade do nosso território essa diversidade não seria possível de obter. Mas para tirar o maior partido dessas castas, nomeadamente da notável elasticidade do Alvarinho, nós inovamos com a caracterização detalhada das diferentes variáveis que influenciam a diferenciação das uvas: a idade das vinhas, a altitude, o tipo de solo, o sistema de condução, etc. Acreditamos que o conhecimento é a maior fonte de consistência, de diferenciação e de inovação que podemos ter ao dispor para aumentar a qualidade dos nossos vinhos. A precisão com que olhamos para a vinha será a precisão que conseguiremos ter em cada um dos nossos perfis de vinho.
Este ano continuamos a trabalhar ideias novas na nossa Cave da Inovação, tanto de amigos que se juntam a nós como da nossa equipa. Mesmo para manter consistentes perfis que já trabalhamos há muitos anos, com os desafios singulares que vamos tendo a cada vindima, é fundamental fazer experiências e diversificar o conhecimento.
2020
I. A fase do abrolhamento, quando os gomos começam a surgir após o adormecimento, ocorreu na primeira quinzena de março, mais do que duas semanas antes do que acontece num ano médio nesta região. O adiantamento na fase inicial do ciclo deu-se porque o Inverno acabou por ser menos rigoroso, menos frio, do que o normal, tendo isso consequências distintas num território tão heterogéneo, nomeadamente no vale e na montanha. O responsável pelo acompanhamento das vinhas do Clube de Produtores do Soalheiro exemplifica: “na parte mais alta do nosso território, nomeadamente na nossa vinha a 1100 metros de altitude, houve menos neve do que o costume, já no vale as temperaturas foram mais amenas”.
II. Durante a fase de crescimento vegetativo, a precipitação foi abundante e as temperaturas baixas, o que, como explica Miguel Alves, “acabou por atrasar o adiantamento do ciclo, fazendo com que o pintor, fase que dá início à maturação, tivesse início a meados de julho, cerca de uma semana antes do que num ano convencional”. O mês de julho e o início de agosto caraterizaram-se por temperaturas muito altas durante o dia e pela ausência de precipitação – em meados de agosto existiram algumas chuvas ligeiras que “favoreceram a qualidade das uvas e ajudaram a vinha a recuperar as reservas”.
III. O fim de agosto foi mais ameno, com temperaturas de cerca de 30°C durante o dia e noites com temperaturas por volta dos 16°C, uma amplitude térmica elevada que é uma das caraterísticas diferenciadoras do território de Monção e Melgaço, originada pela baixa influência dos ventos atlânticos, devido à proteção das montanhas que rodeiam o vale do Alvarinho. Para António Luís Cerdeira, Enólogo do Soalheiro, este final de ciclo “levou a uma maturação mais lenta com a manutenção da frescura aromática e gustativa, caraterística marcante dos nossos vinhos.
2019
É sempre importante nos nossos vinhos, quer seja no Loureiro para o ALLO ou no Alvarinho para os restantes vinhos, encontrar o melhor equilíbrio entre o álcool e a acidez. Para já, 2019 é ligeiramente mais fresco que 2018, o que nos agrada muito, e com álcool também moderado. Finalizando, as expetativas são ótimas, mas como diz o ditado “até ao lavar dos cestos é vindima”, por isso, vamos empenhar-nos para que os vinhos sejam perfeitos e façam jus à grande qualidade das uvas.
2018
2017
2016
As chuvas no inverno foram baixas e abaixo da média. Em janeiro, as chuvas aumentaram e foram muito fortes, com temperatura ambiente média que também foi maior do que o normal. No geral, o inverno foi quente, o que levou a uma explosão ligeiramente cedo com descarga regular. A primavera foi chuvosa e fria, basicamente nos meses de março, abril e maio, o que resultou em irregularidade e atraso no ciclo vegetativo. A floração ocorreu com cerca de duas semanas de atraso, o que permitiu uma melhor distribuição da produção sobre cada videira, com o consequente aumento da qualidade. A partir de junho, as chuvas reduziram drasticamente e as temperaturas médias aumentaram. Os meses de julho e agosto foram quentes e muito secos, com altas temperaturas médias e praticamente sem chuvas. Setembro seguiu essa tendência, contribuindo para uma colheita antecipada, a partir da primeira semana do mês, mostrando uma clara recuperação do atraso observado na primavera.