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RELATÓRIO DE VINDIMAS 2025: A urgência da natureza, a resposta da precisão

Em 2025, a natureza acelerou o ritmo. O ciclo da vinha avançou depressa, exigindo atenção redobrada e decisões rápidas. Foi um ano em que o tempo não esperou — e quem quis acompanhar teve de agir com precisão.

Na sub-região de Monção e Melgaço, o inverno foi curto, a primavera seca e o verão de calor contínuo. A videira reagiu com velocidade: o abrolhamento chegou no final de março, a floração no início de maio e a pintor já a meio de julho — cerca de duas semanas mais cedo que o habitual.

Os dados confirmam a pressa da natureza:
• Temperatura média (nov–jun): 13,3 °C (+6% vs média decenal)
• Precipitação acumulada: 761 mm (−38%)
• Graus-dia acumulados: 345,9 (+24%)

Com menos água e mais calor, a videira não esperou. E no Soalheiro, a resposta foi clara: não controlar o tempo, mas interpretá-lo — com rigor, sensibilidade e respeito.

vindima começou a 23 de agosto com os Alvarinhos do vale, de expressão aromática contida, acidez viva e surpreendente equilíbrio. Poucos dias depois, entraram as uvas para as bases de espumante, colhidas com pH controlado e frescura exemplar.

Seguiu-se o Loureiro atlântico, entre o final de agosto e o início de setembro, no ponto certo de frescura e delicadeza varietal.
A 5 de setembro chegaram as uvas das vinhas de altitude e vinhas velhas, com mostos mais tensos e profundos, e, a partir de 16 de setembro, os tintos autóctones — Alvarelhão e Vinhão — mostraram cor viva, taninos finos e equilíbrio notável.

Entre o vale e a montanha, passaram quinze dias de diferença — tempo essencial para colher cada parcela no seu ponto certo. A cada dia, uma decisão. E com cada parcela, um destino.

Os vinhos de 2025 distinguem-se pela nitidez e pureza varietal.
Sem exuberância tropical nem doçura fácil, expressam fruta branca precisa (maçã verde, nêspera, pera), cítricos tensos (lima, casca de limão) e notas florais subtis (flor de laranjeira, tília). A acidez natural manteve-se firme, mesmo nas zonas de vale, revelando vinhos de perfil vibrante, tenso e profundamente identitário.

2025 ficará na história como o ano em que o tempo correu — e a precisão fez a diferença.

Os Alvarinhos do vale mostram corpo médio, fruta limpa e uma acidez que dá estrutura.

Os Alvarinhos de altitude apresentam tensão mineral, perfil cítrico, menor grau e maior persistência.

Os Loureiros reforçam o lado vegetal da casta — erva-limão, folha de louro, pendor salino.

As bases de espumante de alvarinho têm grande nitidez, com baixa graduação e energia vibrante — um ano muito promissor para longos estágios sur lies.

Nos tintos, a maturação fenólica foi atingida com precisão. O Alvarelhão, mostra o seu lado mais elegante: fruta vermelha nítida, estrutura delicada e tanino sedoso, preservando a tensão. Já o Vinhão expressa intensidade e autenticidade — cor profunda, notas de amora e mirtilo, tanino polido e final vibrante, sem excessos de extração.

Cada decisão de colheita foi pensada com o seu destino em mente:
inox, barrica, ovo, estágio curto ou longo, flor ou prensa direta — o vinho já se desenhava ainda antes da uva entrar na adega.

 

Um ano desafiante, mas controlado 

Do ponto de vista fitossanitário, o míldio foi o principal desafio — ativo desde abril, com vários ciclos de infeção durante o mês de Maio. Exigiu vigilância e decisões rápidas, o que permitiu manter a sanidade controlada em todas as parcelas.

quebra na precipitação teve impacto visível em alguns rendimentos, sobretudo em vinhas jovens ou menos vigorosas. Ainda assim, a entrada em produção de novas parcelas e o equilíbrio das vinhas velhas permitiram manter uma colheita estável, consistente e, acima de tudo, coerente com o estilo Soalheiro.

Esperar sempre o melhor, mesmo num ano que não esperou

Há um certo paradoxo em 2025. Foi um ano rápido, instável, seco. E, no entanto, os vinhos que nos deixa são dos mais precisos e puros dos últimos tempos.

Sem excessos, sem sobre-extrações, sem ruído. Apenas o essencial: fruta, acidez, nitidez.

Na adega, as fermentações decorrem com fluidez, e cada depósito conta uma história distinta — da encosta ao vale, da prensa direta ao mosto flor, do ovo à barrica.
Há energia. Há silêncio. Há espaço para os vinhos se revelarem.

Como sempre, esperamos que seja a melhor colheita de sempre — não porque foi fácil, mas precisamente porque não foi.

Porque em cada decisão, em cada dia da vindima, houve escuta, intenção e cuidado.

E é esse cuidado que dá origem aos vinhos com alma — e à paixão desempenhada, todos os dias, por toda a equipa do Soalheiro.

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