Relatórios de Vindimas, Soalheiro

RELATÓRIO DE VINDIMAS 2024 | Um ciclo equilibrado, uma colheita que superou todas as expetativas

Tudo começa na vinha. Esta é uma frase que é sempre lembrada nas Vindimas e que, este ano, teve um significado especial para nós, porque comemoramos os 50 anos da plantação da nossa primeira vinha, da parcela que nos deu o nome, o Soalheiro, a primeira vinha contínua de Alvarinho em Melgaço desde 1974. Foi desta vinha, plantada em família, que nasceu a marca e uma história de valorização do Alvarinho e da singularidade da viticultura familiar neste território que todos os anos se mobiliza para as Vindimas, onde uns se ajudam aos outros e se agradece à mesa, um momento de festa que marca o fim de um ano de trabalho na vinha e o início de uma nova colheita na adega.

Passados 50 anos, a primeira vinha da família está hoje no centro da manta de retalhos, uma paisagem de minifúndio marcada pelas pequenas parcelas de Alvarinho espalhadas por todo o território. Do nosso Clube de Viticultores fazem parte cerca de 200 famílias que tratam as vinhas como jardins, ao fim da tarde e ao fim de semana, dedicando-lhes a atenção que a primeira vinha nos mereceu ao longo destes 50 anos. Diferentes vinhas, um cuidado familiar. É desta diversidade e conhecimento do lugar que partimos para as várias vindimas que fazemos: ao longo dos últimos anos, temos catalogado todas as pequenas parcelas de vinha, identificando perfis distintos – vale, altitude, vinhas velhas, cotas mais baixas junto ao Rio Minho, biológicas, etc. –, à procura da maior precisão possível com vista à valorização de perfis de Alvarinho diferenciados, à valorização do nosso território.

 

Um ciclo equilibrado, sem surpresas indesejadas

O abrolhamento deu-se na segunda quinzena de março, ligeiramente mais tarde que no ano anterior. Não foi um ano de nascença exagerada nem existiram surpresas indesejadas, começando logo por uma floração sem mácula, que ocorreu no final de maio, cerca de 10 dias mais tarde que no ano anterior. O mês de maio foi especialmente chuvoso, tendo chovido 178mm, o valor mais alto neste mês dos últimos cinco anos. Apesar das chuvas, os cachos vingaram de forma muito satisfatória, sendo desde cedo notório, na maior parte das parcelas, um grande equilíbrio na distribuição dos cachos por videira.

O início do fecho do cacho deu-se em finais de junho. Os meses de junho e julho foram dos mais secos dos últimos cinco anos – os baixos níveis de humidade nesta fase crítica do ciclo ajudaram a afastar os ataques de míldio que, por exemplo no ano passado, afetaram muitos viticultores em Monção e Melgaço.

Em comparação com 2023, observou-se um atraso de aproximadamente uma semana no início da maturação, com os primeiros sinais a aparecerem em final de julho, tendo as condições climáticas durante o mês de agosto favorecido o desenvolvimento das uvas em Monção e Melgaço, nomeadamente a ocorrência de grandes amplitudes térmicas. Em agosto, o valor médio da temperatura máxima diária foi de 32.1 ºC e o valor médio da temperatura mínima diária de 17.3 ºC – tendo sido registada neste mês a temperatura máxima de 39.2 ºC e mínima de 12.5 ºC. A amplitude térmica média diária foi de 14.8 ºC, o que fez com que a maturação não tivesse picos indesejados. Esta é uma caraterística de Monção e Melgaço nesta fase do ciclo: os dias aquecem e as noites arrefecem, o que se revela como fator diferenciador e estável, ano após ano.

No que toca à precipitação em agosto, o valor foi o menor dos últimos cinco anos – 2.4mm –, mas a grande quantidade de água armazenada pelos solos no início do ciclo permitiu que nunca existisse o problema do stress hídrico.

 

Quanto maior a precisão das vindimas, maior a precisão nos vinhos  

 

Há muitos anos que no Soalheiro fazemos várias vindimas, ou seja, tendo todas as vinhas localizadas e caraterizadas, fazemos controlos de maturação espalhados por todo o território de forma a marcamos a vindima da forma mais criteriosa possível para cada parcela, para cada uma das categorias que trabalhamos na adega (Alvarinho do vale, de altitude, de vinhas velhas, etc.). A minúcia na marcação de cada uma destas vindimas é fundamental para conseguirmos manter a consistência nos perfis clássicos do Soalheiro e para descobrir e aprimorar novos perfis, valorizando cada vez mais a diversidade do território.  

Com os primeiros sinais de maturação das uvas a serem observados no final de julho, iniciámos os controlos de maturação no início de agosto. Depois de analisar os diversos e repetidos controlos de maturação, decidimos este ano começar as vindimas de Alvarinho a 29 de agosto. A variabilidade das datas de início das vindimas nestes últimos anos, reflete, obviamente, as particularidades do ano em questão, mas também o nosso desígnio de moldar as vindimas às caraterísticas de cada colheita – quanto maior a precisão nas vindimas, maior a precisão nos vinhos.  

As condições climatéricas, embora incertas, favoreceram o desenvolvimento de uvas saudáveis e com uma excelente concentração aromática. A importância na precisão de cada uma das vindimas levou a que a colheita, realizada meticulosamente, garantisse a expressão máxima do potencial do Alvarinho, dos diferentes perfis que desenvolvemos. A viticultura sustentável e o trabalho de valorização das vinhas velhas, com foco no equilíbrio e resiliência dos solos, das plantas, mostrou-se fundamental para obter uvas de alta qualidade, mesmo num contexto de alterações climáticas.  

 

As várias vindimas

   

Diferentes vinhas, um cuidado familiar. É desta diversidade e conhecimento do lugar que partimos para Alvarinhos diferenciados, fazendo vindimas distintas que são encaminhadas, posteriormente, para recipientes diversos, recorrendo a técnicas de vinificação diferenciadas.

Este ano a precisão do processo voltou a evoluir, permitindo limar os diversos perfis: desde os vinhos mais frescos e vibrantes, aos vinhos com maior estrutura e complexidade. Analisando zona a zona, as parcelas localizadas em encostas mais frescas proporcionaram uvas com maior acidez e aromas mais cítricos, enquanto as parcelas mais ensolaradas contribuíram para vinhos com mais corpo e notas de fruta madura.

O estilo dos espumantes proveniente desta colheita será marcado pela elegância, acidez equilibrada e grande intensidade de fruta. A uva de Alvarinho destinada aos espumantes, no Soalheiro, entra nos primeiros dias de vindima, procurando ter a acidez e pH ideais, que nos permitem fazer espumantes com maior precisão – o ponto chave é ter um bom equilíbrio de acidez, essencial para a estrutura e frescor do espumante. Assim que chegam à adega, as uvas para a base de espumante são prensadas de forma cada vez mais rigorosa e precisa – atualmente, utilizamos para a base de espumante apenas a cuvée, o que nos garante um maior equilíbrio, elegância e finesse.

Descobrimos ainda que vindimas como a de 2024 oferecem um cenário excecional para expressar a complexidade e o potencial dos tintos no nosso território. Embora ainda haja muito a explorar, os resultados obtidos no estudo dos últimos anos, particularmente nesta vindima, são extremamente gratificantes e prometem boas novidades para breve, no que toca ao Alvarelhão e Vinhão.

 

Uma colheita que superou todas as expetativas

A colheita de 2024 surpreendeu-nos com vinhos de uma qualidade excecional, sendo uma das mais entusiasmantes dos últimos anos: a maturação das uvas foi lenta e equilibrada, resultando em vinhos com uma energia e frescor únicos, que se caraterizam pela pureza, elegância, pelo perfil aromático intenso e complexo, com notas cítricas e florais, e por uma acidez viva e refrescante que lhes confere uma grande persistência no paladar. Tudo isto augura à colheita 2024 um magnífico potencial de envelhecimento em garrafa.

Agora, o foco da equipa do Soalheiro é o de sempre: a consistência e qualidade dos clássicos; a experimentação e descoberta de novos perfis, limando detalhes e explorando novas fronteiras; o aprofundar do conhecimento e detalhe científico de cada parcela de vinha, aliando-o ao cuidado familiar; a vontade de trabalhar e valorizar a diversidade singular do Alvarinho no nosso território. 

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