Fotografia aérea da primeira vinha em 1974 (Alvaredo, Melgaço)
Foi em 1974 que João António Cerdeira e a família plantaram a primeira vinha do Soalheiro. Numa altura em que no concelho o Alvarinho se plantava nas bordaduras dos campos, arriscaram ao plantar a primeira vinha contínua de Alvarinho em Melgaço.
Primeira Vinha Contínua de Alvarinho em Melgaço
João António Cerdeira era funcionário das Finanças e Palmira Cerdeira era professora do Ensino Básico em Melgaço. Nos primeiros anos de casamento viviam na casa dos pais de João António Cerdeira que, como quase todas na altura, tinha um terreno de cultivo – na região é habitual os campos terem um nome e este chamava-se Soalheiro, devido à generosa exposição solar.
Em Melgaço, as videiras ainda ocupavam as bordaduras dos campos, sendo costume misturar o Alvarinho com outras castas autóctones. Os cereais cresciam no centro das parcelas, principalmente o milho, que servia para fazer pão e alimentar os animais. As famílias praticavam uma agricultura de subsistência.
Só em 1974 é que uma parcela foi plenamente dedicada ao Alvarinho no concelho: João António Cerdeira e a família plantaram a primeira vinha contínua de Alvarinho em Melgaço, o Soalheiro.
“Os pais dele tinham uns terrenos e ele resolveu pôr vinha. Foi em 74 e foi considerado uma loucura. O meu sogro estava renitente, mas acabou por se convencer. Não se via bem as videiras. Via-se os postes. As pessoas diziam que era um cemitério. Três a cinco anos depois começou a produzir e as pessoas viram que até dava algum lucro e começou toda a gente a plantar. Toda a gente seguiu a loucura.”
Palmira Cerdeira recorda bem esses tempos e a visão do marido.
Avançar com os pés bem assentes nesta terra
A plantação do Soalheiro em 1974 foi o primeiro passo de um caminho que continua. Em 1982, rotularam-se as primeiras garrafas com o nome Soalheiro, dando a primeira vinha o nome à marca.
50 anos depois, são muitas as pequenas vinhas de Alvarinho com histórias como a do Soalheiro, de gente que avançou com os pés bem assentes nesta terra.
Estamos no minifúndio, o Alvarinho é para a maioria dos viticultores uma atividade de fim de tarde e de fim de semana, uma paixão e um rendimento complementar, assumindo-se como garante de maior sustentabilidade económica para muitas famílias, contribuindo para uma alternativa à litoralização e à emigração, criando uma maior coesão social e territorial. A família Soalheiro, entre a equipa e o Clube de Viticultores, junta hoje mais de 200 famílias.
Uma atitude que perdura
O Alvarinho de Monção e Melgaço é reconhecido internacionalmente como um vinho branco de classe mundial, mas no Soalheiro acredita-se que o potencial da casta Alvarinho, deste território, ainda está longe de ser completamente realizado.
Esta procura contínua da valorização do Alvarinho e do território, mostrando ao mundo a grandeza que se faz localmente, perpetua um ciclo virtuoso de inovação e sustentabilidade que começou em 1974 na primeira vinha – em tempos onde as palavras inovação e sustentabilidade ainda não estavam em voga – quando foi plantada uma atitude que perdura.
Todas as histórias começam na vinha e foi nesta que nasceu a do Soalheiro. Para celebrar os 50 anos vamos continuar a contar a história da plantação da primeira vinha na primeira pessoa. Acompanhe-nos!