Uma colheita perfeita, com a convicção que no Soalheiro o ano 2020 ficará para sempre associado a resiliência, a espírito de equipa, a consistência e também a um otimismo especial baseado nas uvas de qualidade extraordinária com que as vinhas deste nosso Território nos presentearam.
DO GOMO DE INVERNO AO PINTOR
A fase do abrolhamento ocorreu na primeira quinzena de março, mais do que duas semanas antes do que acontece num ano médio na nossa região.
Este adiantamento do ciclo vegetativo da videira na sua fase inicial ocorreu porque o Inverno foi menos rigoroso, ou seja, menos frio, do que é normal. Tal situação teve consequências distintas num Território tão heterogéneo como o nosso e que integra zonas de vale e zonas de montanha. Na parte mais alta do nosso Território, nomeadamente na nossa vinha a 1100 metros de altitude, houve menos neve do que o costume e no vale as temperaturas foram mais amenas.
Durante a fase de crescimento vegetativo, a precipitação foi abundante e as temperaturas foram baixas. Esta situação acabou por atrasar o adiantamento do ciclo, fazendo com que o pintor, fase que dá início à maturação das uvas, tivesse início em meados de julho, ou seja, cerca de uma semana antes da data em que é habitual esta fase ocorrer num ano convencional.
A MATURAÇÃO DAS UVAS
O mês de julho e o início do mês de agosto caraterizaram-se por apresentar temperaturas muito altas durante o dia e pela ausência de precipitação. No entanto, em meados do mês de agosto registaram-se algumas chuvas ligeiras que favoreceram a qualidade das uvas e ajudaram a vinha a recuperar as suas reservas.
O fim do mês de agosto foi mais ameno, com temperaturas de cerca de 30º C durante o dia e com temperaturas por volta dos 16º C durante a noite. Registou-se, assim, uma amplitude térmica elevada que é uma das caraterísticas diferenciadoras de Monção e Melgaço, originada pela baixa influência dos ventos atlânticos, devido à proteção das montanhas que rodeiam o vale do Alvarinho.
Apesar de, no final do ciclo, a maturação das uvas ter sido mais lenta, a Vindima do Alvarinho no Soalheiro iniciou-se no dia 29 de agosto, cerca de uma semana antes do que é costume nesta sub-região dos Vinhos Verdes.
A VINDIMA E OS VINHOS
Este ano, os mostos do Alvarinho mostraram, desde logo, uma complexidade que logo nos encantou, estando esta caraterística também aliada a uma estrutura equilibrada. A Vindima precoce realçou ainda mais uma caraterística marcante dos nossos vinhos: a frescura aromática e a mineralidade.
Dentro deste perfil, acabamos por ter uvas e mostos muito variados. A região de Monção e Melgaço é uma região de minifúndio e no Clube de Produtores do Soalheiro colaboramos com famílias de viticultores que fazem este Território ser sustentável – aqui encontramos parcelas muito diferentes e por isso, com uma riqueza muito grande de sabores e de perfis de Alvarinho. As vinhas biológicas da nossa propriedade e a viticultura sustentável e integrada praticada pelos nossos produtores coabitam num Território único.
Há já muito tempo que nos apercebemos que, para sermos consistentes e inovadores, e apostando essencialmente em duas castas brancas – Loureiro e Alvarinho – é fundamental trabalhar com a diversidade das parcelas de vinha e dos estilos de uvas. Sem a heterogeneidade do nosso Território essa diversidade não seria possível de obter. Mas para tirar o maior partido dessas castas, nomeadamente da notável elasticidade do Alvarinho, nós inovamos com a informatização das diferentes variáveis que influenciam a diferenciação das uvas: a idade das vinhas, a altitude, o tipo de solo, o sistema de condução, etc. Acreditamos que o conhecimento é a maior fonte de consistência, de diferenciação e de inovação que podemos ter ao dispor para aumentar a qualidade dos nossos vinhos.
A paleta de mostos que o Território nos proporcionou este ano é extraordinária e é fundamental para que os lotes finais dos nossos vinhos como, por exemplo o Soalheiro Clássico, sejam consistentes ano após ano.
Partindo da diversidade da matéria-prima que nos é dada pelo Território, todo o trabalho na adega passa por realçar este caráter diversificado dos mostos através da utilização de diferentes temperaturas de fermentação e do recurso a diferentes tipos de depósitos onde decorrem essas fermentações.
Esta foi a primeira Vindima em que trabalhámos na recém-inaugurada Cave da Inovação, símbolo da nossa vontade em acolher ideias inovadoras na nossa incubadora e de pôr em prática as ideias da nossa equipa: o Aghora, Alvarinho e Loureiro à moda da Geórgia, o Alvorone, um Alvarinho feito como um Amarone, o Alvarinho de pé franco em barricas spin, ovos de inox, etc.
A inovação é para nós uma forma de explorar dimensões desconhecidas do Alvarinho e do Loureiro, mas é também algo fundamental para se manter a tradição pois, a consistência, a intensidade e a mineralidade dos Soalheiros clássicos dependem de uma inovação invisível, que se assemelha às ténues mudanças que as vinhas sofrem a cada dia. Parecem sempre iguais porque estão vivas, porque estão sempre a mexer.
É isso que esperamos dos nossos vinhos nesta colheita: que sejam iguais a si próprios e que sejam únicos como o ano que os viu nascer.